Ao que Schumpeter denomina "doutrina clássica da democracia".

O autor começa por definir o conceito de democracia do século XVIII, cujo caráter é o bem comum no arranjo institucional, por meio de eleições que cumprem com a vontade dos indivíduos. Durante o texto, discutirá o efeito desse conceito. 
O bem comum por si denomina soluções bem definidas. Cada medida tomada pode ser vistas como boas ou ruins. A divergência de tais opiniões é que pode dificultar a "concretização da meta comum a quase todos", como cita o autor. A administração para a efetivação dessa meta deve ser provida de qualidades e técnicas confiadas aos especialistas. Pode-se perceber a primeira vista que nenhuma dificuldade há com o conceito de democracia, exceto pelo ponto essencial da crítica do autor: a maneira pelo qual ela funciona. 
Quando Schumpeter se refere a qualidades e técnicas que os especialistas devem obter é porque de antemão já reconhece que a complexidade humana se revela por meio das suas distinções ao que se refere a vontades, por isso a ideia de bem comum se distingue sobre o mundo dos valores humanos (provoca dificuldades sobre questões de princípio). 
Por isso o autor discute bastante a ideia de que sempre haverá uma grande parte da sociedade que não concordará com as medidas tomadas por possuir uma opinião distinta da maioria. Entretanto, os cidadãos não possuem argumentos racionais que convencem, pois inclina os valores supremos a vontades individuais. 
Constantemente o autor reafirma a dificuldade na obtenção de unidade na sociedade e procura argumentos para a vontade do povo, só que apresenta todos os fatos implícitos para a solução de tais fatos. Por esse motivo, contempla os fatores para a efetiva e racional vontade individual: 1. O cidadão deve selecionar criticamente os fatos (no alcance de todos); 2. A opinião de um deve ser tão boa quanto de outro homem. Porém, para a execução deve primordialmente, preservar sua independência. 
Sobretudo, mesmo que haja um ideal de um cidadão convincente e este seja usado, não se seguirá necessariamente as decisões políticas tomadas por esse processo, em que a vontade do povo não estaria sendo representada de qualquer maneira. Isto é, mesmo que o cidadão siga ativamente no meio político e nele construa um ideal convincente, este não será convincentemente a “vórontê générale”. Para ilustrar melhor, o autor dá o exemplo de Napoleão que em uma necessidade, proporcionou a liberdade de escolha religiosa, mas de antemão reforçou a autoridade Estatal. Isso traz um caráter eclesiástico para as discussões políticas, pois a sociedade mostra-se disposta a aceitar acordos impostos. 
Embora exagere um pouco, o autor ainda apresenta a ideia de na multidão os instintos retomam ao primitivismo que inclui uma propensão a criminalidade, infantilismo e até um caráter animal perante a natureza dos indivíduos na política, o efeito é causado pelo frenesi perante a multidão, em que qualquer teste em apresentar um argumento irracional, fracassa, pois retoma aos instintos animalescos. Além de que estão sensíveis a influências: qualquer que seja a informação que é repetida várias vezes, torna-se verdade; como exemplo, cita as propagandas que passam a se tornar mais que um argumento racional, provando a crítica de Schumpeter: “(...) a maioria tem o hábito de insistir exatamente nas coisas que deseja”. 
Embora haja nas decisões diárias senso de responsabilidade, a ação, a racionalidade e a certeza se abstêm de tal processo, o autor cita o exemplo de epidemias que foi descoberto a causa somente no final do século XVIII, a justificativa era a incapacidade de associar a infecção a epidemia, demonstrando a resistência em identificar uma relação ou/e alguma vontade individual que não queira reconhecer isso. 
Por meio da limitação o senso de responsabilidade acarreta uma série de vontades individuais já definidas, pois quando se trata de decisões políticas, os indivíduos tendem a adorar às próprias vontades. Entretanto é esse mesmo cidadão que pode constituir um fator imprescindível na concretização da democracia: o patriotismo; em que a valorização do mundo transparece no cuidado da boa execução de fatores adversos sociais. 
O autor ainda acrescenta a respeito da hipótese da racionalidade. Antigamente os eleitores reagiam de maneira imediata e racionalizada, mas na doutrina clássica de democracia se evidencia pouca informação para falar a respeito da racionalidade. Portanto, mesmo que o cidadão corresponda aos fatores para a efetiva e racional vontade individuais já citados, ele não encontra espaço para desenvolver sua tarefa, por ser um membro de toda nação, a qual é incapaz de funcionar. Por conseguinte o cidadão torna-se cômodo, o mesmo se reconhece com um caráter primitivo pela sua procrastinação no campo político. E, além disso, o cidadão comum cederia a impulsos irracionais ou preconceitos, pois sua falta de controle gera uma densidade muito grande em fatos simples e sua vida habitual auxilia nessa repressão. Sendo assim, a incerteza habitual mais a vontade dada pela doutrina clássica de democracia resultam na irresponsabilidade.  
De certo a racionalidade é um elemento bem discutido por Schumpeter, a ausência de tal acarreta uma alienação, pois o caráter débil na lógica e a falta de crítica racional estimula o interesse de outros grupos que queiram explorá-los. Tais grupos idealistas provam a vontade do povo de maneira artificialmente fabricada (vontade imposta), essa é a volontê générale, fazendo da vontade o efeito e não mais a causa. 
Em contrapartida, após toda a argumentação de defesa de sua crítica ao termo de doutrina clássica da democracia, o autor demonstra razões para a permanência da mesma, mesmo que o seu racionalismo utilitário e base teórica estejam mortos. Revela, a partir disso, que a doutrina se associa com a fé religiosa, se transformando radicalmente, pela sua transferência dos valores lógicos a um Deus, a um Criador que tudo define. Nesse sentido, a revolução democrática traria liberdade e a decência, pela sua exaltação ao conceito de liberdade abordado na Bíblia. 
Diante todos esses pontos e exemplos históricos abordados, pode-se concluir que Schumpeter discorre brilhantemente a sua teoria que se baseia em três pontos: os resultados não têm unidade; não são racionais; e não têm relação com qualquer bem. Corroborando com a ideia de que não existe a tal da vontade geral por não existir um bem conhecido por todos, isto é, não há possibilidades da vontade geral ser formada por uma série de vontades individuais.  
Logo, a participação política sendo racional traz uma série de particularidades, seja ela econômica ou social, pois a ideia de bem comum agrega interesses individuais mesmo que este se abstenha de racionalidade, como afirma: “(...) nossa teoria parece esclarecer a relação que subsiste entre a democracia e a liberdade individual. Se, pela última, entendemos a existência de uma esfera de autogoverno individual, cujas fronteiras são historicamente variáveis, a questão torna-se, evidentemente, uma questão de grau. Já vimos que o método democrático não garante necessariamente maior medida de liberdade individual do que qualquer outro método, em circunstâncias semelhantes. Pode acontecer justamente o contrário. Mas ainda assim existe relação entre as duas”. Ou seja, a vontade individual está correlacionada diretamente com a doutrina clássica da democracia, pois é ela que deveria ser capaz de interpretar criticamente os fatos que estão ao alcance de todos. O otimismo de Schumpeter em relação a esse caso se mostra no instante em que argumenta que a História poderá de antemão alterar o curso dos acontecimentos, por conta do seu valor raro que se encontra na questão do tempo que pode a partir de uma sucessão de acontecimentos gerarem opiniões mais relevantes. 


Bibliografia  

SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia. São Paulo: Fundo de Cultura, 1961, capítulos 21, 22 e 23. 

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